circuloperfeito

um olhar sobre as coisas que passam

quinta-feira, fevereiro 17, 2005

Pensar o país…

A mudança de paradigma de desenvolvimento passa, sobretudo, por uma mudança de paradigma de governação.

Tem-se desenvolvido a ideia de que, o que Portugal precisa é de um salvador, de alguém que nos retire do meio de todas as embrulhadas em que nos metemos e que nos indique o caminho.

Não raras vezes, a análise sobre as capacidades dos políticos tende a resvalar para uma (injusta?) comparação com o modelo desejado – o salvador.

Sinal dos tempos ou das fragilidades do mundo contemporâneo, os homens (e as mulheres) que nos governarão nos próximos anos estão mais próximos do homem comum que do homem providencial. Agrada-me esta ideia de dessacralização do exercício da governação. Uma ideia de “política de proximidade”.

Contudo, para se constituir um novo paradigma de governação tem de se exercitar novos métodos. De informação, de diálogo e de colaboração com os governados – que conduzam à construção de um (ou vários) projectos colectivos.

No entanto, esta ideia é particularmente perigosa pela facilidade com que deriva para posturas demagógicas e inconsequentes, nomeadamente quando esquece alguns elementos do contexto de partida nomeadamente que oito em cada dez jovens não têm participação cívica (Público, 26/1/2005).

2 Comments:

  • At 18:38, Blogger HCM said…

    "Santana Lopes tem uma característica que é o que eu considero o homem de futuro o homem de futuro é o homem comum. A nossa gente está ainda educada para ser excepcional e para ter uma certa subserviência perante o homem excepcional, que é o salvador da pátria, o grande economista, o grande guerreiro... Mas essa imagem foi-se esbatendo e o futuro é do homem comum..."
    Agustina Bessa-Luis. DN 4-2-2005

     
  • At 03:47, Anonymous Anónimo said…

    Caro amigo zé, tenho uma nota a fazer apesar de militar ferozmente nas tuas palavras.
    Existe, quanto a mim, uma patologia de observador quando se versa sobre o tema da mobilização política, em especial a dos jovens. A desmobilização geral(nível baixo de confiança nas instituições ou aumento da abstenção eleitoral) é um facto. Contudo, aparente. Pois, a constatação de alguns dados empíricos revela uma segunda natureza de observação deste fenómeno desmobilizador, que tantas vezes vemos nos media ser asseverado imprudentemente, a saber: apesar do decréscimo da mobilização por meios convencionais (como o voto) que deixaria antever uma quebra de participação política dos cidadãos, existe uma maior predisposição destes para influenciar activamente no espaço político. A variável independente (a explicativa) deste fenómeno não se encontra filiada em questões de apatia social, desencantamento no sistema, alienação ou de eficácia e performance dos governos, mas antes ligada à aparição da cultura pós-moderna (ou melhor, pós-materialista: não preocupada em primeira instância pela sobrevivência) que se caracteriza por novas formas de participação política como posturas de afrontamento às elites e ao stato quo. A mudança económica das sociedades (mudança que na nossa sociedade foi repentina) que, por usa vez, desencadeou mudanças comportamentais colectivas (esta ideia do Post-modern Shift)proporcionou novos sentidos de crítica e fiscalização por parte dos cidadãos aos seus governos. A teoria clássica democrática do voto como única arma do povo, enquanto modo de fiscalização revela-se de pouco alcance operacional perante o anteriormente traçado. Para uma sociedade marcada pela assunção de comportamentos essencialmente individualistas e estados de bem-estar elevados, a obediência a este esquema de influência afigura-se de pouco alcance operacional. Os novos padrões de exigência da avaliação política transportam uma desadequação no processo de interagir com as instituições, e despoletam uma propensão (não ingerência total) para a participação em acções de protesto que se incluem num comportamento generalizado de uma postura de afrontamento do establishment.
    Por narizes de palhaço em out-doors, não comprar produtos da Indonésia, participar numa manifestação poderá valer mais que um voto. Votar menos, nas sociedades pós-materialistas, não quer dizer necessariamente que se participa menos, existem meios de ingerência não convencionais que cada vez mais (como mostra toda a empíria em matéria de participação política) são a forma mais fácil de participar e influenciar o poder político.
    Deixo uma nota bibliográfica sobre a questão: Inglehart, R., Modernization and Post-Modernization: Cultural, economic and political change in 43 societies, Princeton, Princeton University Press, 1997
    Deixo um abraço e a promessa de participar mais vezes na tua blogosfera

     

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