circuloperfeito

um olhar sobre as coisas que passam

quinta-feira, fevereiro 10, 2005


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quem avisa...

quarta-feira, fevereiro 09, 2005

O choque

Daqui a menos de quinze dias tudo terá já passado. Já teremos escolhido o novo governo. Provavelmente a melhor escolha, o povo é soberano e, dizem, sábio!

Em trinta anos de democracia já votei para cima de umas vinte vezes. Presidenciais, Legislativas, Autárquicas, Europeias e Referendos. Julgo que não falhei uma.

De eleição para eleição vou assistindo a uma natural modificação da agenda de preocupações dos partidos políticos – a Europa, a reforma do sistema político, a economia, a justiça, a educação, o desenvolvimento, o ambiente e a inovação. Enfim, são múltiplas as temáticas, algumas recorrentes outras nem tanto.

Também no estilo tenho assistido a algumas mudanças. As referências estratégicas ou palavras-chave tendem a explicitar os valores que determinado partido pretende impor na governação. Tivemos mensagens simbólicas que induziam a ideia do estabelecimento de um acordo ou compromisso com o eleitorado. Tivemos o “homem do leme”, “o diálogo”, a “razão e o coração” e agora temos “o choque”!

Acho estranha esta mensagem do choque. No fundo reconhece que, esgotadas as alternativas de alcançar os objectivos pela via tradicional, já só lá vamos com um choque. Que já foi fiscal (?) e será tecnológico ou de gestão consoante a solução governativa que sair das eleições de 20 de Fevereiro.

A noção de choque é uma noção preocupante. Em primeiro lugar por ter por detrás de si uma concepção temporal momentânea. Rápida e drástica. Como não podemos entrar em choque todos os dias, faremos tudo rapidamente. E a pressa é, normalmente, má conselheira. Em segundo lugar por ser sempre incontrolável. Não se pode imaginar, de forma objectiva, os diferentes impactos que este choque pode ter. Em terceiro lugar por ser contra qualquer coisa. Assume-se que não se conseguiu fazer com as pessoas, as empresas ou os funcionários públicos.

Proponho assim uma nova abordagem, para reflexão pós-eleitoral.Qualquer que seja o conjunto de reformas que o novo governo venha a executar sugiro que incentive uma acção incrementalista, através de etapas com níveis de exigência cada vez mais fortes. Mas comece por explicar bem o que quer, como pretende chegar lá e qual o papel de cada um de nós nesse “jogo”. Crie entretanto os mecanismos de avaliação para que todos possamos perceber o que falhou, quem falhou e o que tem de ser melhorado. Exija patamares elevados de resultado – a excelência deve ser um desígnio nacional!