circuloperfeito

um olhar sobre as coisas que passam

quinta-feira, fevereiro 17, 2005

Pensar o país…

A mudança de paradigma de desenvolvimento passa, sobretudo, por uma mudança de paradigma de governação.

Tem-se desenvolvido a ideia de que, o que Portugal precisa é de um salvador, de alguém que nos retire do meio de todas as embrulhadas em que nos metemos e que nos indique o caminho.

Não raras vezes, a análise sobre as capacidades dos políticos tende a resvalar para uma (injusta?) comparação com o modelo desejado – o salvador.

Sinal dos tempos ou das fragilidades do mundo contemporâneo, os homens (e as mulheres) que nos governarão nos próximos anos estão mais próximos do homem comum que do homem providencial. Agrada-me esta ideia de dessacralização do exercício da governação. Uma ideia de “política de proximidade”.

Contudo, para se constituir um novo paradigma de governação tem de se exercitar novos métodos. De informação, de diálogo e de colaboração com os governados – que conduzam à construção de um (ou vários) projectos colectivos.

No entanto, esta ideia é particularmente perigosa pela facilidade com que deriva para posturas demagógicas e inconsequentes, nomeadamente quando esquece alguns elementos do contexto de partida nomeadamente que oito em cada dez jovens não têm participação cívica (Público, 26/1/2005).

Dilema e paradigma…

Nos últimos anos Portugal assumiu um estilo de vida que não tem capacidade de pagar (Consome Menos - http://alcatruz.blogspot.com/).
Por um lado, como refere António Vitorino, “tivemos expectativas demasiado elevadas quanto a um progresso em linha de progressão geométrica, pela perspectiva de adesão ao euro e a baixa das taxas de juro, o que provocou um desafogo extraordinário nas famílias e, portanto, uma espiral de sobreendividamento” (Público, 31/1/05).
Por outro lado, o Estado na mesma linha de expectativa, não racionalizou os seus investimentos tendo ajudado a produzir (ou não tendo evitado) os agravamentos de assimetrias, sobretudo com a Europa.
Estamos assim perante um dilema. Como refere um estudo já citado, ao apostarmos numa estratégia que visa aproximar as regiões pobres das regiões ricas, corremos o risco do empobrecimento das mais prósperas, perdendo de vista a aproximação do País no seu todo, aos países mais ricos da Europa.
Dito de outra forma, numa fase de desaceleração da economia - como a actual - a aposta vai normalmente para a competitividade, enquanto que nas fases de expansão, como foram os anos noventa, é mais natural o privilégio das questões redistributivas” (Daniel Bessa, 24/1/05).
Se não mudarmos de estilo de vida – ou melhor, se não mudarmos de paradigma de desenvolvimento, estaremos na eminência de um novo (e perigoso) agravamento de assimetrias.

segunda-feira, fevereiro 14, 2005

Assimetrias

Portugal apresenta níveis de desenvolvimento preocupantes.
Por um lado tem um valor PIB 68,8% do valor médio da Europa a 15 (Visão 10/2/05), sendo, neste momento, o país com o valor mais baixo dos 15. Por outro lado, apresenta assimetrias internas de desenvolvimento que se têm vindo a agravar.
De acordo com um estudo encomendado pelo Ministério da Segurança Social uma boa parte dos municípios portugueses está a à beira da morte social e um quarto está confrontado com graves situações de exclusão social e pobreza extrema, nomeadamente Trás-os-Montes, Dão-Lafões e Baixo Alentejo (Público 21/1/05). Por outro lado, o poder de compra em Lisboa é seis vezes maior que em Celorico de Basto (Público 25/1/05). Ainda de acordo com outro estudo a riqueza produzida pela sub-região mais pobre do país, o Vale do Tâmega, correspondia, em 2002, a 1/3 do produto gerado na Grande Lisboa, que apresentava um rendimento por pessoa de 21.000 euros, o que traduz um PIB per capita superior à média nacional de 146 por cento e de 117 por cento em relação à União Europeia já alargada a 25 países (Público 24/1/05).
O nosso país tem recebido, nos últimos anos, um significativo apoio financeiro por via dos sucessivos Quadros Comunitários de Apoio. No último ano foram mais de 4,755 mil milhões de euros.
O que faz com que apesar de um conjunto de recursos disponíveis não tenhamos conseguido alterar o actual estado de coisas? E porque não se discutem estes temas na campanha eleitoral?